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quarta-feira, 18 de maio de 2011

Viva! Os Nunos do futebol infantil

Este é um texto de homenagem ao Nuno, e a todos os «Nunos» deste país.
Trata-se de um texto publicado há uma semana num jornal, (foi-me indicado pelo mister Celikkaya) e que refere uma evidência que carece de um reconhecimento público.
 
Trata-se dos muitos «Nunos» que andam por este País, e que são eles que garantem que os clubes funcionam. Toda a gente reconhece os méritos pedagógicos e os resultados dos treinadores, toda a gente reconhece os grandes jogadores, toda a gente reconhece os altos dirigentes dos clubes.

Mas e os diretores e todos aqueles homens que dedicam toda a sua vida aos clubes, que garantem que todas as semanas os equipamentos estão prontos, as fichas de jogo preenchidas, os papeis todos tratados, as águas para os miudos beberem, as horas e horas que passam ao telefone  (gastam dinheiro do seu bolso... ninguém lhes paga aquilo) a falar com pais e treinadores... avisa as horas para treinos, ouve as queixas de pais, ouve as queixas de treinadores, e, perante toda esta dedicação, qual é o reconhecimento???

Nenhum!

Nem sequer têm um estatuto de utilidade pública, nada.

Leiam este texto, de um especialista, vale a pena...










O Primeiro de Janeiro opinião Quarta-feira, 11 de Maio de 2011
do Prof. Silveira Ramos

Num debate recentemente realizado na Associação de Futebol de Castelo Branco, em que simpaticamente o seu Presidente, na qualidade de
anfitrião, possibilitou a troca de opiniões sobre desenvolvimento do futebol, a dirigentes, treinadores organizados em torno da sua Associação
de Classe e Comunicação Social, foi, a certa altura do debate, destacada
a importância dos dirigentes/pais na dinâmica dos clubes de futebol e de
futsal.
Numa reflexão em que se procuraram elencar algumas questões importantes para o desenvolvimento da “pirâmide” do futebol e futsal, da
base até ao topo, foram abordados assuntos como quadros competitivos e
tipos de competições para cada idade e nível de prática, organização dessas competições com sistemas de subidas e descidas, condições de treino,
incluindo as motivações dos intervenientes para o processo e os riscos de
abandono, formação dos diferentes agentes, considerando conhecimento, competências e
estabilização de comportamentos de todos os intervenientes, número de jogadores estrangeiros nos diversos escalões, em particular nos jovens, transições de carreira dos jogadores,
especialmente nalguns escalões como seja na passagem de juniores para seniores, enfim,
toda uma gama de factores de desenvolvimento, que carecem de adequada atenção, para que
a referida pirâmide de desenvolvimento seja equilibrada e sólida, desde a base dos jogos mais
informais, até à mais alta sofisticação da actividade do Alto Rendimento.
A certa altura, com o debate animado e rico, um dos intervenientes referiu a importância
dos dirigentes dos clubes como sustento de toda a actividade e, também, a preocupação pelo
abandono de alguns, que dirigem e apoiam os clubes e o seu funcionamento enquanto têm
os seus filhos a jogar mas, depois abandonam, quando estes deixam a prática das modalidades.
Toda a gente envolvida no debate deu conta de um assunto particular. Realçam-se muito
os factores de desenvolvimento da actividade desportiva, esquecendo, subvalorizando ou
dando como facto adquirido, que as condições de prática vão surgindo, sem ninguém ter
de as garantir ou pugnar por elas. Despertou-se para a realidade. Projecta-se o desporto e
apontam-se caminhos para o seu desenvolvimento, nas componentes mais práticas e mais
operacionais do treino e competição. Não se cuida com o mesmo peso e a mesma necessidade de investimento, desse recurso humano decisivo, que é o Dirigente, que angaria, garante
e mantém as condições de organização e sustentação de toda a actividade. Neste caso, a
reflexão foi iniciada nessa figura curiosa que é o dirigente e pai, que se dedica ao seu clube
ou instituição, como contributo para o seu funcionamento e mas também pela possibilidade
de acompanhamento mais próximo do seu descendente.
De imediato surgiu este dado novo no debate, que se encaminhou para apreciação com
maior detalhe da figura do dirigente de clube, como base indispensável para toda a actividade. Neste caso em particular sobre os dirigentes que emprestam a sua dedicação enquanto os
seus filhos são praticantes mas depois abandonam exactamente quando deixam de ter essa
razão de intervenção.
Todos se aperceberam com maior evidência da importância do dirigente desportivo,
neste caso no clube, assim como do relativo pouco reconhecimento que todos temos dado
a essas pessoas, que são insubstituíveis nas suas funções mas a que o tecido desportivo, a
começar pelo Estado, tem dado pouco estímulo e poucas condições de exercício
. Não vale
a pena, nem é possível, pensar no desenvolvimento de qualquer modalidade, no caso em
apreço do futebol e futsal, sem ter em conta as pessoas que o vão organizar e que terão de
angariar os meios para o seu funcionamento.
Em primeiro lugar, há muitos anos se fala e se reivindica o Estatuto do Dirigente Desportivo, como garantia do reconhecimento da actividade destes agentes. Não faz sentido que a
sociedade não reconheça, valorize e dê contrapartidas e incentivos institucionais, a quem
dá parte do seu tempo e da sua vida, à organização de actividades desportivas e culturais,
para outros. Em termos legais o Estado reconhece que “considera-se dirigente desportivo
em regime de voluntariado qualquer pessoa que se encontre, de modo efectivo e sem
remuneração, no exercício de funções em órgãos estatutários do Comité Olímpico de
Portugal, da Confederação do Desporto de Portugal, de federações desportivas dotadas
de estatuto de utilidade pública desportiva ou de associações nestas últimas inscritas.”
É positivo este reconhecimento mas é seguramente muito pouco. Faz-se, nesta abordagem
aos dirigentes desportivos, a separação entre os que exercem em regime de voluntariado e os
DIRIGENTES DESPORTIVOS,
PAIS DE PRATICANTES    
outros de carácter profissional e, evidentemente, que estamos a debruçarnos sobre os primeiros. Falta, em nossa opinião, um olhar abrangente,
que estimule e reconheça todo o contingente de dirigentes que sustentam
a actividade desportiva de forma voluntária.
O debate, ao trazer à reflexão a figura do dirigente/pai, suscitou muitas
questões que convém analisar. O Dirigente é aquele que dirige. Todos os
agentes, neste caso desportivos, têm dirigentes. Os próprios dirigentes,
treinadores, jogadores, árbitros, médicos, jornalistas, etc., têm entre os
seus membros, quem dirige os organismos que os representam. Portanto,
logo à partida todos têm e podem ser dirigentes. Estes não são uma classe
à parte dos agentes activos do desporto, a quem exigimos que arranjem
as condições para nós actuarmos. São cidadãos que dão o seu esforço e
dedicação para que seja possível haver e praticar desporto.
No entanto, há uma série de contradições e questões que sobressaem desta figura. Logo à
partida é o Agente que dirige mas também aquele a quem não se exige nenhuma condição
para o exercício. Não tem formação nem habilitações exigíveis para as funções. Qualquer
pessoa pode ser dirigente ao mais alto nível sem qualquer preparação para o efeito. Aliás,
vários estudos e autores referem que o desporto tem no seu seio muitas pessoas sem vivência
desportiva mas que, apesar disso, consideram estar preparadas para a orientação dos destinos de clubes ou de outras instituições.
 Todos sabemos que a função do dirigente é de extrema exigência, uma vez que para além
da dificuldade de angariação de meios para a organização e prática efectiva do desporto, ele
é um elemento fundamental no seu desenvolvimento. Sabe-se, segundo estudos de referência, que o capital humano de qualquer organização é o principal recurso responsável pelo
sucesso ou insucesso das instituições. Dizem também os especialistas que a organização
desportiva é constituída e está estruturada em torno da actividade de dirigentes voluntários,
que garantem recursos materiais e humanos para a prática desportiva de um número significativo de pessoas.
Estamos perante a contradição máxima: o dirigente voluntário é “elemento chave” no
processo, no entanto pode não ter nenhuma preparação para as funções e a sociedade não
valoriza nem promove convenientemente a sua participação.
Estamos, então, perante um cenário muito complicado. O dirigente desportivo voluntá-
rio é decisivo e tem sobre as suas costas enormes responsabilidades. Porém, a sociedade não
o valoriza nem lhe dá os meios suficientes para actuar. Sabe-se, para além do mais e, igualmente, segundo estudos de especialistas, que a composição social deste importante agente é,
na generalidade, de baixas qualificações académicas e, em muitos casos, como foi referido,
sem vivência da própria actividade desportiva.
Qual, então, a motivação para ser dirigente desportivo voluntário? Para o dirigente/pai,
já vimos, pode ser, para além de participar na colectividade e ser generoso, acompanhar o
seu descendente. Para os restantes, há uma enorme variedade de razões. É também muito
variado o tempo usual de participação, com casos de dedicação de 30 anos até outros de um
único ano ou mesmo de meses.
O panorama é muito diverso. No entanto parece seguro, e o debate que suscitou estas
linhas revelou, que todos nós nos temos esquecido de evidenciar e elogiar o esforço e dedicação deste contingente de boas vontades, que tem proporcionado a nós e aos nossos filhos
a prática desportiva organizada a partir dos clubes. Praticantes de topo têm lembrado os
treinadores que os enquadraram nos primeiros pontapés na bola mas não relembram os que
lhes arranjaram bolas, camisolas e sandes desses tempos. Treinadores, árbitros e jogadores
são frequentemente homenageados pelos seus feitos mas raramente vem à baila a lembrança
daqueles voluntários que deram o seu tempo e dedicação, para que eles pudessem atingir o
sucesso.
Temos de garantir que a motivação que fez com que o dirigente/pai se tenha dedicado
para apoiar o seu filho, continue e ele se mantenha em funções, para apoiar outras crianças
e jovens que tanto dele necessitam. Para isso, é preciso, é mesmo indispensável, que se olhe
para esta figura com mais respeito e mais reconhecimento, e se criem as condições para que
a sua generosidade tenha mais e melhores condições de exercício e evolução.

*Treinador de futebol
Mestre em Treino de Alto Rendimento

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