Julgo que abordei este tema no primeiro blog, há 3 anos, ainda o meu filhote era infantil «B».
Na altura este era um tema essencial, até porque decidira tirar o meu filho do Charneca e trazê-lo para o Almada porque sentia que nestas idades é importante que os miúdos aprendam, que façam progressos, que evoluam... e não haja apenas um objetivo, o de ganhar, ganhar, ganhar... à custa do que quer que seja...
Foi essa a filosofia que o Mister Tiago me «vendeu» na altura. E convenceu-me! Não me arrependo!
Na verdade, sinto que o meu filho ganhou novas competências, evoluiu. Claramente, evoluiu! Já estou no Almada há 3 anos... há ali miudos que os vi evoluir muito, mas mesmo muito!
Porque razão volto a falar deste tema?
Bem, calhou esta semana falar com alguns pais, que têm os seus filhos noutros clubes, os quais manifestavam algum desencanto: «Sinto que o meu filho andou de cavalo para burro, desaprendeu, agora é cada um pra seu lado, e pontapé prá frente...».
Sejamos honestos. O pensamento generalizado é este: Quando os nossos filhos estão numa equipa que ganha, que ganha muito, e os nossos filhos jogam... pouco importa se a equipa só joga pontapé prá frente, se é cada um pra seu lado, se se joga feio, se se queima tempo... Aí já nada interessa! O sucesso embriaga... deixa as pessoas anestesiadas, e sem racionalidade.
Quando ganhamos tudo, temos respostas para tudo. Se alguém nos diz que não gostou de ver o nosso jogo, respondemos logo: «Estás com dor de cotovelo... é azia... perdeste não é? Aguenta-te...»
E este discurso arrogante, irracional, baseia-se nessa «doença» de que quem ganha é superior, pode fazer tudo... deixa de haver valores a discuitir, «ganhei, sou o melhor!»
Infelizmente, temos de reconhecer, é esta a verdade!
O problema já surge quando a equipa ganha tudo, mas o nosso filho não joga, não tem lugar na equipa... Aí já encontramos defeitos na equipa. Ganha tudo, é certo... mas podia ser melhor, se trocasse mais os miúdos...
Agora quando a equipa não é de sucesso, quando não ganha muito... tudo se desmorona. Aí já não interessa se o nosso filho joga, se a equipa faz bom futebol... aí todo o projeto é um fracasso e criticamos tudo, os treinadores, o clube, os métodos de treino... tudo é criticável...
Esta é a verdade! Tudo se move em torno dos resultados!
Só que... azar doa azares, nem toda a gente se deixa embriagar por essa «bebida» chamada «GANHAR, GANHAR, GANHAR!»
Há quem privilegie o futebol como um desporto coletivo, que goste de ver uma equipa a jogar em que se vê espírito de entre-ajuda, se vê sacrifício, se vê unidade, em vez do egoísmo o altruísmo...
Para quem acompanha este blog há mais tempo, sabem perfeitamente ao que me refiro: Na época passada, apesar de ganharmos muitos jogos, fartei-me de o escrever aqui: «Não temos equipa... temos excelentes jogadores, mas não temos equipa! É cada um para seu lado! Há muita cabeça no chão! Há muito individualismo! Não há equipa»...
Muita gente não gostou do que eu escrevia... Não percebiam. Então se ganhávamos... estava eu a criticar porquê?
Hoje já ninguém me faz perguntas sobre isso. Já sabem exatamente o que penso: Futebol é desporto coletivo, é preciso que os jogadores olhem para o lado. É ver o que faz o Barcelona... e tentar fazer 5% daquilo que faz o Barcelona! Onde está a bola estão sempre 3 jogadores, cada jogador que tem a bola tem de ter 2 ou 3 opções de passe. É preciso haver muito espírito de grupo. A dada altura e já nem é preciso levantar a cabeça, já sabemos onde estão os nossos colegas. Chama-se a isto jogar de olhos fechados! Automatismos!
Esta conversa surge agora porquê? Porque curiosamente neste fim de semana em que vi um dos melhores jogos da época (é verdade que vi muito poucos jogos esta época, pela infelicidade de sucessivas lesões do meu filhote) falo com dois pais que me manifestam o seu desalento em relação aos seus filhos. E eu respondo: «Olha, nos dois últimos fins de semana vi dois excelentes jogos de futebol. Vi equipa. Vi miúdos a trocarem a bola, a jogarem apoiados, a ajudarem-se uns aos outros... dá gozo ver uma equipa assim».
Um desses pais chegava ao fim da conversa a dizer-me: «Olha, para o ano, se quiseres levar o teu filho para o clube «X», eu conheço lá o treinador...»
E eu acabei a conversa a dizer: «Olha, logo se vê! Eu não mando nada! O puto é que sabe, ele é que decide! Já o vi muito desencantado, até com vontade de desistir do futebol, mas agora parece-me que está muito satisfeito com a equipa! Anda entusiasmado!»
E dou comigo a pensar: Que raio! As pessoas andam com os miudos de um clube para outro... com variadíssimas motivações... Uns levam para um clube mais forte, que é mais competitivo, mas a dada altura é competitivo demais, o filho fica no banco ou não é convocado. Outros levam para um clube que ganha muito, mas chegam lá e dizem que os filhos desaprenderam... é só pontapé prá frente e jogar duro...
E se quiséssemos todos apenas que os nossos filhos jogassem bom futebol?
Eis que falo com um amigo, que anda nisto do futebol juvenil há bastantes anos, já treinou várias equipas, e diz-me ele esta grande verdade: «Já reparaste que a maioria destas equipas são treinadas apenas para ganhar jogos, um futebol feio, pontapé prá frente, jogo duro, charutada para dentro da área, a ver se a bola lá acaba por entrar... e de facto acabam por ganhar jogos, esse jogo é muito eficaz. Amedrontar o adversário com muita porrada e meter a bola lá à frente... mas achas que algum daqueles miúdos vai evoluir ao ponto de poder jogar numa equipa do Campeonato Nacional? Nem pensar... E Já reparaste que do lote de 14 equipas do campeonato quantas tentam jogar bola no chão? Pois... são poucas, pois, são... 4 ou 5...
E tenho de reconhecer que este meu amigo tem toda a razão!
Esta época quantas equipas defrontámos que procuravam jogar bom futebol? Sem ser só cacetada?
O Barreirense, o Grandolafoot, o Paio Pires, o Corroios, o Alfarim... pouco mais!
E é triste... é triste constatarmos que se formam equipas só para os resultados, sem pensar nos miudos! É jogar para ganhar... não interessa a que custo!
Quando deviamos ver equipas a tentarem jogar bom futebol, bola no chão, sem necessidade de contacto físico,...
O que vos posso dizer é que adorei os dois últimos jogos, contra V. Milhaços e Alfarim. Pouco me importam os resultados. Aliás, no jogo com o v.Milhaços, em que empatámos, acho que jogámos melhor que este último, em que demos 7 a 0.
Não é tão bonito ver os miúdos a trocarem a bola ao primeiro toque... bolas à linha, centros para a área, a bola a circular a meio campo de pé para pé... a defesa a iniciar o jogo no chão... bola no pé... sem necessidade daqueles pontapés prá frente... As boas equipas jogam assim!
Se queremos ter uma boa equipa para o ano. Temos de jogar assim, mas cada vez melhor! Mais cumplicidades, mais automatismos!
PARABÈNS MIUDOS, ESTOU A ADORAR!
(EU SEI QUE AINDA NÂO METI OS VIDEOS TODOS DO ULTIMO JOGO - TÊM DE TER CALMA, AQUILO DÀ MUITO TRABALHO... E È PRECISO TEMPO)
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